Mundial Infantil
Ficamos hospedados no Campus de Maldonado, e nossas partidas eram no estádio Domingos Burgeño Miguel (situado dentro do Campus). O Estádio tem capacidade pra 22 mil pessoas (aproximadamente) e foi inaugurado em 1995 pela seleção brasileira na Copa América. Nesse estádio, o Ronaldo (gordo) fez seu primeiro jogo pelo Sel. Brasileira. O gramado é perfeito. Na primeira noite, entramos dentro para conhecer, no meio da madrugada.
Fiz a função de auxiliar de vestiário. Carregava coisas, abria e fechava o vestiário e ficava no banco de reservas.
Só tivemos idéia da dimensão do campeonato quando começou. Hino Nacional, cobertura de imprensa, entrevista. No primeiro jogo, em meu papel de assessor de imprensa, tive que passar a escalação do time para 2 rádios e o jornal de Maldonado (La República Del Este), além, é claro, para o site oficial da competição, o www.mundialinfantil.com.
Veracruz
No primeiro jogo, todos sentiram o nervosismo da estréia. Após um primeiro tempo equilibrado contra a equipe do Veracruz, do México, levamos dois gols no segundo tempo e acabamos sendo derrotados. Os nossos atletas não estavam no clima da competição. Divididas, fortes, carrinhos.
Nacional - A Batalha de Maldonado
Para o segundo jogo, uma reformulação total do time. E vinha o temido time do Nacional, do Uruguai, que na primeira rodada havia vencido o time local, o Maldonado, por 1 a 0. O time do Nacional tinha um jogador, número 10, chamado José Aguirre, que merece que guardemos o seu nome. Alto, Forte, Habilidoso, bom finalizador. Começou no banco de reservas. No primeiro tempo, a tática de encaixar a marcação e encaixotar o Nacional deu resultado. Não tivemos muitas surpresas. Para o segundo tempo, o time do Nacional veio para o ataque, com direito a José Aguirre e tudo. Apesar da pressão, e do jogo se encaminhando para o final, conseguimos o inacreditável: Nos acréscimos do segundo tempo, nosso atacante, Léo, fez o 1 a 0 para nós. O que viria à seguir, seriam momentos de aflição, selvageria e cenas lamentáveis.
Primeiro, um dos jogadores do Nacional agrediu um dos nossos meninos (logo que saiu o gol). Desfeita a confusão e acalmado um pouco os animos, jogamos os 2 ou 3 (que pareceram uns 10 ou 20) minutos restantes do jogo, e com o apito do juiz, veio a nossa festa (e claro, mais confusão). Antes disso, inclusive, um torcedor do Nacional tentou (mas não conseguiu) cuspir em mim, no banco de reservas.
Depois que invadi o gramado para comemorar a façanha, vi que havia se formado a confusão no meio do campo, como adulto responsável (hahaha) corri para o meio para separar. Fui xingado por um senhor, trajando uniforme do Nacional, por algumas coisas que não compreendi. Acho que ele também não deve ter entendido quando eu mantei enfiar alguma coisa em algum lugar. No dia seguinte, descobri que este senhor é o treinador do Nacional, me pediu um milhão de desculpas pelo fato, falou que estava de cabeça quente, etc. Consegui finalmente separar a confusão e levar os nossos atletas para o vestiário. No meio do caminho, vi que a confusão não tinha ficado restrita ao campo: o quebra-quebra também tinha começado na arquibancada. Um dos pais de um dos garotos, que é enorme, um armário com as duas portas abertas, estava partindo pra cima de um outro cara da arquibancada, que agrediu ele, com uma pessoa pendurada em cada braço tentando impedir ele de fazer besteira. Corri em direção ao vestiário. Quando cheguei na porta, vi um garoto do Nacional saindo do nosso vestiário. Pois bem, ele entrou no nosso vestiário, jogou uma pedra de gelo (segundo o que me contaram) e cuspiu em um dos diretores da categoria. Após conseguirmos conter todos dentro do vestiário, fiquei na porta, cuidando para que ninguém saísse do vestiário, e que ninguém indesejável chegasse perto. Uns 5 minutos depois, vi a tropa de choque chegando ao estádio, para "apaziguar" o ânimo do pessoal. Logo em seguida, o coordenador do policiamento do evento veio nos comunicar que a situação não tava muito boa lá fora, e que teríamos que esperar meia hora dentro do vestiário, até que pudéssemos sair com segurança. Mais de meia hora depois, saímos pelo caminho indicado pelos policiais até o nosso alojamento.
Nessas 3 ou 4 horas, todos nós, que estávamos lá presentes, passamos por momentos de sofrimento, aflição e total euforia. Sempre tive um espirito de porco, as vezes, trocando os canais da TV, se estou passando por um jogo de futebol (geralmente pela Libertadores) e está formada a confusão, fico assisinto para ver qual que vai ser o final da confusão. Foram justamente estas imagens que se passaram na minha cabeça para descrever o que aconteceu conosco nesse jogo. Sempre ouvimos os mitos da Libertadores, as guerras campais, os jogos heróicos: amigos, posso dizer, com todas as letras que eu vivi (e sobrevivi) à um momento destes.
Naquela noite, eu, que sou de durmir em qualquer hora e qualquer lugar, custei muito à dormir. Fiquei uma grande parte da noite lembrando do jogo, lembrando de cada detalhe, de cada momento. Foi uma das noites mais curtas da minha vida.
Na manhã do dia seguinte, ainda repecurtimos muito o dia anterior e os fatos, mas mesmo assim, precisávamos se preparar para o outro embate que estava por vir.
De Pé: Marcelo Brazil (Mãe!!! Olha Eu aqui!!!), João Pedro, Vitor, Picolli, Odi, Debona, Tainam, Gallio, Lucas, Bryan, Rafa, Douglas, Willian, Iago e Joga
Abaixados: Pedro, Andrei, Loren, Léo, Gabriel, Ézio, Nicolas, Guilherme e Hiron.
Maldonado
A equipe da casa. No primeiro dia, eles lutaram bravamente contra o Nacional. Ao fim do jogo, mesmo com a derrota por 1 a 0, gol do José Aguirre (uma tentativa de cruzamento, em que ele chutou mal a bola e fez o gol) sairam cantando e muito (mas muito mesmo) aplaudidos pela torcida presente. Começamos o jogo amassando eles. Várias chances de gol perdidas. Num lance de carrinho, o treinador(meu pai) reclama, e o juiz expulsa ele (com 7 minutos de jogo). Após isto, o comentário do pessoal da rádio Maldnado, foi que "El entrenador de Caxias fue expulso, pero su auxiliar.... es muy peor", ou seja, o auxiliar dele, fazia muito pior que ele. Até que veio o castigo: numa falta, levamos o 1 a 0. Momentos de nervosismo e cometemos um penalti. Na cobrança, uma grande defesa do nosso goleiro, João Pedro. Fim do primeiro tempo. No início do segundo, partimos para o tudo ou nada. Logo no início, o empate, com o Léo. Tinhamos certeza de que conseguiriamos, porém.... logo em seguida, primeiro o Léo tenta cavar um penalti e o juiz dá amarelo. Depois, o juiz ve um cotovelaço dele em um uruguaio (sinceramente, eu não vi, porque no meu angulo de visão, o Léo encobria o uruguaio) e foi pra rua. Não sei se ele fez besteira ou não, mas sei que ele chorou muito, tive muita pena dele. Com um a menos, precisávamos ganhar o jogo. Um jogo aberto e com chances para os dois lados. E o tempo passou muito rápido naquele jogo. Quase no final, quando o time do Nacional ia embora da arquibancada, acreditando que tinham se classificado. Uma falta, um cruzamento e gol. Aqueles cruzamentos que a bola vem de frente pra goleiro, nem sei se alguém encostou na bola (na súmula, o gol foi atribuído ao Douglas), enfim, o gol da vitória. Terminado o jogo, não tinhamos certeza da classificação, pois o primeiro critério de desempate era o Fair Play, ou seja, cartões. Empatamos em pontos com o Veracruz e o Nacional, porém, nós e o Nacional tivemos jogadores expulsos e estávamos concorrendo pela mesma vaga. Ao final dos jogos, reunião em uma sala privativa, apreensão e... nada foi decidido. Iria ser anunciada a decisão no dia seguinte.
O dia seguinte era um dia livre, em que fizemos um passeio pelas praias de Maldonado, Punta e Piriápolis. Após o passeio, resolvemos eu, meu pai e minha mãe fazer um passeio em família. Comemos alguma coisa, olhamos algumas lojas, nada de mais, tudo pra fazer com que a dúvida da indefinição não ficasse pipocando à cada momento em nossas cabeças. Após escoltarmos a minha mãe até o hotel e começarmos o caminho de volta ao Campus, encontramos os familiares de um dos nossos atletas e ficamos conversando um pouco... até.... até sermos surpeendidos pela notícia que teríamos treino as 6 da tarde. Porque teríamos treino? Porque haviamos nos classificado! Alegria total. Corremos no caminho de volta, meio incrédulos com a notícia, mas era verdade mesmo. Na chegada no alojamento, choro, alegria, tudo pela classificação.
Ganhamos a vaga no Fair Play, tinhamos menos cartões amarelos que o Nacional, além do episódio do garoto que invadiu o nosso vestiário.
River - Davi x Golias
Após a classificação, soubemos que iamos enfretar o River Plate do Uruguai. As primeiras informações que tivemos do time é que eram jogadores altos. Não um, nem dois. Todos.
Na chegada deles ao estádio, me assustei, realmente eram todos altos. Na hora do jogo, começou a chover, o que iria deixar o jogo mais pesado.
No início do jogo, tivemos muito respeito do River, então, as ações estavam bem iguais. Inclusive, tivemos uma boa chance numa falha da zaga deles, que não conseguimos aproveitar. Após os 15 primeiros minutos, o time do River foi para o ataque, muito baseado na força física muito superior que eles tinham. Aguentamos bem, até que numa sequência de 7 ou 8 tiros de meta que eles dominavam a bola e partiam pra cima, acabamos sofrendo o primeiro gol nos acréscimos do primeiro tempo. Muita frustração, é claro.
Nos primeiros quinze minutos do segundo tempo, a situação não mudou muito. Eles pressionaram bastante, até conseguir o segundo gol, em um lance de bate-rebate dentro da área. Após isto, acalmaram um pouco as ações, e começamos a dominar a partida. Faltando mais ou menos uns 4 minutos pra terminar o jogo, um penalti pra nós! Gabriel bateu o penalti e fez o nosso primeiro gol na partida. Ainda tinhamos uma chance. No último lance da partida, uma falta mais ou menos do meio do campo. Nosso zagueiro Bryan bate um balão... a bola vai.. vai ... vai.. quando parece que vai entrar, o goleiro espalma e ela bate no travessão. No rebote, cai no pé do nosso outro zagueiro que chuta totalmente errado, a zaga deles afasta e o juiz acaba ali o jogo.
Foi o final da nossa jornada por bandas charruas. Ao invés da decepção por não ter conseguido a classificação para ficarmos entre os 8 melhores times, muita alegria. Superamos em algums momentos os nossos limites, tivemos verdadeiras batalhas e nunca desistimos.
Ps: Demorei aproximadamente 1 mes para fazer este post. Foi uma experiência tão intensa que levou muito tempo para poder transcrever para este humilde blog. Posso ter esquecido alguma passagem, mas, se lembrar, eu incluo algumas partes novas. Desculpem pela demora.